Poucas pessoas sabem que a mais antiga competição que existe é uma regata conhecida como America´s Cup.
Existia uma regata chamada `R.Y.S. £100 Cup´, organizada pelo Royal Yacht Squadron e consistia em dar uma volta ao redor da ilha de Wight, no sul da Inglaterra.
O regulamento era simples: dada a largada, ficaria com a taça e o prêmio (cem guines), o barco que cruzasse em primeiro a linha de chegada, dando uma volta à ilha.
Em 1851, o Comodoro do New York Yacht Club e mais seis membros do clube decidiram construir um barco, com a intenção de levá-lo à Inglaterra e ganhar algum dinheiro competindo em regatas.
Assim, contrataram George Steers para desenhar e construir uma escuna de 101 pés, que foi batizado America e colocado ao mar em 3 de maio de 1851.
O barco cruzou o Atlântico e chegou na Inglaterra a tempo de, no dia 22 de agosto de 1851, competir na regata das 100 Guines.
Quando aquele barco chegou à Inglaterra ele foi motivo de galhofa, por parte dos ingleses, pois o desenho dele era completamente diferente do que eles consideravam que um barco de regata deveria ser.
Na hora da largada havia na água 15 barcos ingleses e o America.
O America completou a volta da ilha chegando em primeiro, 8 minutos à frente do segundo colocado!
A Rainha Victória, que estava assistindo a regata, perguntou quem chegou em segundo e a resposta ficou famosa: `Ah Majestade, não existe segundo´
Os membros do grupo, que organizaram o America, doaram a copa recebida ao Yacht Club de N.Y., especificando que esta taça deveria ser o troféu perpétuo de uma competição, destinada a promoção da amizade entre as nações. Assim nasceu a America’s Cup.
Muitas histórias lindas aconteceram nestes quase 170 anos de batalha tecnológica entre os países participantes. O primeiro mastro de duralumínio, o desenvolvimento dos cascos leves em fibra e materiais exóticos, velas de alta performance e muito mais. Tudo isto refletiu-se em barcos melhores, mais rápidos e seguros para o nosso velejar de cada dia.
A America´s Cup está para a vela assim como a Fórmula 1 está para os automóveis.
O spinnaker (balão) já não faz mais sentido, os barcos atuais andam muito mais rápido do que o vento, coisa que os nossos barcos de passeio ainda não são capazes de fazer e, portanto, nunca tem o vento nem de través nem de alheta e nem mesmo de popa, estão sempre orçando, mesmo quando andam a favor do vento!
A busca por barcos cada vez mais velozes faz com que eles velejem apoiados sobre fólios e, assim, o casco não toca a água. Com isso elimina-se um grande fator de resistência ao avanço do barco.
Um dos meus ídolos, Eric Tabarly, foi pioneiro em criar estas asas, chamadas fólios, para fazer o barco sair da água. O famoso Hydroptère é consequência destes trabalhos pioneiros.
A meta deste barco é bater o recorde de travessia do Pacífico e depois tentar atingir a incrível barreira dos 100 nós!
Mas foi necessário que aparecesse um pequeno barco, criado na Austrália e que se chama Moth, para que esse conceito pudesse explodir no mundo da vela. Ele revolucionou o modo de velejar. Praticamente todos os grandes participantes das equipes da atual America´s Cup passaram alguns anos velejando nestes barquinhos. Ele é o barco escola da nova geração.
Muito ainda tem a ser desenvolvido para que esta linda forma de navegar chegue até nós, míseros mortais. Mas que vai chegar, vai! Acabou a época das regatas de tartarugas.
A gente ainda se diverte muito navegando e competindo com os nossos monocascos deslocantes, mas temos que admitir que eles andam devagar.
Os catamarãs e trimarãs já velejavam muito mais rápido do que os monocascos, agora com os fólios, parece que todos, inclusive eles, ficam parados, enquanto esses voadores velejam.
A pergunta lógica é: existe um limite para a velocidade de um barco a vela?
Alguns amigos me pediram para explicar como um barco a vela pode andar mais rápido do que o vento real. Acrescento que ele pode andar mais rápido, inclusive, do que o vento aparente!
Outros me perguntaram se existe uma velocidade máxima que um veleiro pode atingir. A resposta é sim, dependendo da vela e do ângulo de rumo.
Após trabalhar bastante sobre isso, preparei uma apresentação que compartilho com prazer para quem assim deseje e com ela ficará claro o que acontece. Ela é longa e contém cálculos (simples) . Coloquei na nuvem e está acessível - este é o link ( a senha é crapun). É sempre um prazer dividir o que pesquisei com os amigos. Isto vai gerar muita conversa de píer e, espero, regada a cerveja e churrasco. Caso queira esclarecer alguma dúvida ou ter mais detalhes, é só me contatar.
Para aqueles que não desejam aprender a velejar com barcos velozes, continua o prazer de velejar nos nossos queridos monocascos com sapatos de chumbo (a quilha)! Eles também são muito divertidos e deliciosos. Neles temos tempo para ir velejando com a churrasqueira acesa e curtindo a natureza. Afinal, andar rápido não deixa a gente aproveitar o perfume da vida.
Obrigado e até a próxima.
Elio Crapun
Grande historia Elio, obrigado por compartilhar com a gente! A planilha eu não consegui acessar, não chega a pedir a senha. Quer ajudar para verificar? Trabalho com TI e posso te ajudar se precisar, grande abraço!!