top of page
Buscar
  • Foto do escritorElio

O Atlântico me recebeu de braços abertos!

Há duas semanas recebi o convite de levar um belo veleiro saindo de La Rochelle (França) e destino à cidade de Aveiro ( Portugal).


Vários foram os motivos que me levaram a aceitar este convite. Seria a primeira velejada de altura depois do triste acidente com o Crapun, seria mais uma oportunidade de voltar a La Rochelle, cidade que gosto muito e onde tenho bons amigos e seria uma ótima volta a Portugal que sempre me recebeu com muito afeto e carinho.

Então dei uma pausa nos trabalhos no Ranger e convidei um amigo francês (Pierre) que eu suspeitava ser uma pessoa sensacional e que se revelou mais do que isso.

A tripulação era composta, além de mim e do Pierre, pelo Jorge, feliz proprietário do barco e pelo Pedro, amigo do Jorge e também, como ele, Professor na Universidade de Aveiro.

A saída foi forte, com mar grosso, vagas de três metros e vento acima de 20 nós de alheta.

Eu estava lutando contra uma gripe chata e, como não tomo remédios, tentava me manter aquecido o melhor possível e o Pierre e o Pedro começaram a marejar. Após dois dias a tripulação toda estava bem.

O barco velejava gostoso e rumamos para La Corunha (Espanha).

O céu estava encoberto e não foi possível ver as estrelas.

Em La Corunha o Pedro teve que voltar a Portugal e seguimos nós três.

Após avaliarmos as previsões meteorológicas concluímos que no dia seguinte partiríamos para tentar evitar uma pancada que vinha do norte.


Jorge concentrado!

Os golfinhos várias vezes tinham vindo nos acompanhar e desejar boa viagem e os turnos nunca foram regulares pois o Jorge mostrou seus conhecimentos náuticos e, usando a desculpa de que eu deveria me aquecer, sempre esticava seus turnos. Na verdade acho que ele estava curtindo muito o seu barco novo, fruto de muitos esforços e dedicação.

Existe um cabo que se denomina Finisterra que é a esquina que marca o fim do temido Golfo de Gasconha e escancara o Oceano Atlântico.

Os romanos lhe deram este nome pois acreditavam que lá acabava a Terra e depois só haveria mar.

Muitas vezes naveguei por lá e sempre tive navegadas tensas por causa do tempo ruim. Agora fui recompensado e, ao anoitecer, com céu aberto, ondas sempre da ordem de três metros e ventos acima dos 25 nós, o mítico farol de Finisterra sinalizava com seus dois lampejos brancos e oclusão de 15 segundos. Fiquei emocionado. Era como se ele estivesse dizendo que o Oceano estava feliz em me ver novamente. Não importa se perdi meu querido Crapun, o Oceano me aceitava de volta dando as boas vindas. Foi uma felicidade imensa.

Enquanto viajávamos, Pierre se mostrou um marinheiro valente e nos divertimos muito descobrindo as horas do dia usando o Sol ou a latitude usando a Polar como referência. Claro que ensinei a eles o meu método de usar as mãos e não instrumentos eletrônicos. Pierre acertava as horas com erro de poucos minutos! Depois de Finisterra, a latitude era medida com as mãos e, quando conferida no GPS, o erro era mínimo.

Jorge decidiu que deveríamos parar em Baiona (Espanha) e foi uma ótima decisão. Aquela cidade era o lugar mais distante de Aveiro onde ele tinha velejado anteriormente.

Com seu castelo com mais de quatro quilômetros de muros o Pierre pode caminhar um pouco. Ele faz caminhadas de centenas de quilômetros! Comemos uma mariscada espetacular e no dia seguinte seguimos viagem.

O problema a resolver agora seria na cidade Aveiro pois, para chegar na marina onde o Jorge iria guardar seu querido barco deveríamos passar sob uma ponte cuja altura tinha sido motivo de estudos. O Jorge mediu previamente a altura da ponte nas diferentes condições de maré e a altura do mastro do barco mais as obras vivas. Segundo ele tocaríamos a ponte se a maré estivesse acima de um certo valor estimado. Bom, bastaria passar com maré baixa. Não, infelizmente havia um outro problema: com maré baixa iriamos tocar o fundo perto da marina. Claro que uma solução seria passar pela ponte com maré baixa, jogar âncora, esperar a maré subir e seguir para a Marina. Mas, calcula daqui, calcula de lá e tudo apontava que, numa estreita faixa de tempo, com maré subindo, passaríamos pela ponte e iriamos direto para a marina. Táboa de marés na mão e calculamos a hora que deveríamos passar. Feitas as contas estamos a hora de saída e sabíamos a que hora deveríamos chegar na ponte. Previsão do tempo para conhecer os ventos e calcular o tempo de viagem e pronto.

Finalmente partimos e chegamos em Aveiro de madrugada na hora estimada. Agora era prender a respiração e passar sob a ponte. Reduzimos a velocidade o quanto podíamos, lâmpada iluminando a ponte, o mastro se aproximando, nós três vendo a ponta do mastro cada vez mais próxima do concreto da ponte e finalmente passamos! Todos lançamos um urro de alegria! O Jorge tinha feito os cálculos certos. Parabéns!

Quando estamos no barco e vemos a ponte não temos a verdadeira noção da altura e sempre achamos que o mastro vai tocar.

Este é um problema que meus amigos de Florianópolis enfrentam com a ponte nova que é mais baixa que a linda e antiga ponte Ercílio Luz (engenheiro tonto que seguramente não era velejador!). Vários barcos já deixaram seus mastros por lá.

Muitos anos atrás subi o rio Guadiana, divisa entre Portugal e Espanha que leva à cidade de Alcoutim, cerca de 20 milhas rio acima. Com o Crapun tive que passar foz do rio que possui bancos de areia que impediam a passagem na maré baixa e logo depois uma ponte que impedia minha passagem na maré alta. Cálculos, tábua de marés, confere de novo, estuda as corrente fortes da boca do rio, descobre a janela certa para passar. Reconfere as contas. Confere mais uma vez. Decide passar. Você passa com a respiração presa, o coração na mão, torcendo para que não passe nenhuma lancha para fazer marola. É tensão pura!

A chegada a Aveiro não poderia ter sido melhor. Era Páscoa e a família do Jorge estava nos aguardando para um esplêndido banquete envolto numa atmosfera familiar que só fez aumentar mais ainda aquela amizade que somente quem vive o mar conhece.

Depois foi só curtir a hospitalidade ímpar dos portugueses e retornar à França pois o Pierre tinha que participar de uma corrida de pouco mais de 50 quilômetros e eu deveria voltar aos trabalhos no Ranger.

Só tenho que dizer obrigado.

Aguardem o próximo blog que vem mais novidades.

Ah, ia esquecendo: se quiserem comprar o meu livro, no Brasil pode ser feito pela Amazon, aqui na Europa diretamente comigo. Tem uns pouquinhos ainda.

Ainda sobram duas semanas de resevas de tours pelo Canal du Midi, a bordo do Ranger. Se programou vir à França, será bem vindo.

2.207 visualizações4 comentários

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page