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  • Foto do escritorElio

Um lugar muito perigoso e desconhecido pela maioria dos velejadores!


Quando se fala de lugar perigoso, imediatamente se pensa em tempestades, ventos fortes, ondas enormes e tudo mais.

Porém o lugar com o maior número de naufrágios no mundo não aparenta nada disso.

Estatisticamente, a causa do maior número de naufrágios é o encalhe.

Ficou famoso o encalhe na Volvo Ocean Race de 2014 - 2015 no Cargados Carajos Shoals, um conhecido recife das Ilhas Mauritius.

Essa etapa começava em Cape Town e terminaria em Abu Dabi.

Conversando com um grande velejador espanhol que estava em outro barco nessa competição, perguntei a ele qual o motivo desse encalhe.

O tempo estava bom, o barco sob controle, toda tecnologia mais moderna a bordo e, sem a menor sombra de dúvida, aquela regata reune os maiores e melhores velejadores de oceano do mundo.

Então não faltava tecnologia, nem experiência e o tempo estava bom. Daí a pergunta: o que causou o acidente?

A explicação foi que, nesta “perna” da regata havia uma “Zona de Exclusão”, ou seja uma região onde era proibido passar, determinada pela organização. O motivo era a segurança dos barcos para afastar-se de regiões de pirataria. Então o percurso para Abu Dani não poderia ser o melhor, mas o melhor possível levando em conta a zona de exclusão.

Essas instruções foram dadas antes da largada em Cape Town. Todas as tripulações sabiam disso.

Quando o larga é dado, cada equipe tenta a melhor rota levando em conta previsões de tempo, correntes marítimas e características do barco.

Após poucos dias de velejada, os boletins meteorológicos apontavam que a rota poderia ser mudada para melhor aproveitar os ventos. Aí veio o problema!

Traçada a nova rota, o navegador não ampliou suficientemente a carta náutica e, PUM! O barco bateu e encalhou. Para piorar a coisa, esse lugar é famoso pela enorme quantidade de tubarões, sendo um lugar de turismo com a finalidade de avistá-los.

Enfim, erros acontecem. Todos foram resgatados, o barco ficou destruído.

Mas não é Cargados Carajos Shoals o lugar mais perigoso do mundo.

Outro lugar onde barcos encalham é aqui, no litoral brasileiro. Trata-se de Abrolhos.

O nome é devido aos antigos navegantes portugueses que diziam: “ Quando navegares naquela região abra olhos pois é perigoso!”.

Hoje em dia, com a tecnologia das cartas eletrônicas, é raro que alguém encalhe, mas muitos barcos tiveram fim naquele santuário de baleias. Lugar idílico.

Claro que eu fiquei surpreso ao encontrar barcos encalhados em lugares que eu julgava extremamente seguros, como por exemplo em Navajos Beach, na Grécia.

Recentemente o Capitão do navio encalhado em Navajos Beach, o “MV Panayiotis”, relatou o que aconteceu.

O senhor Capitão Charalambos Kompothekras-Kotsoros, nascido na ilha de Kefalonia declarou que o barco saiu do porto de Argostoli (Kefalonia) em direção ao porto de Durés (Albânia) no dia 6 de setembro de 1980.

Ao retornar, no dia 2 de outubro de 1980 ao entardecer, com condições meteorológicas adversas,o navio apresentou problemas mecânicos e acabou encalhando na praia de St George, perto de Volimes. Esta praia é agora famosa com o nome de Navajos Beach e os restos do navio na praia são um dos cartões postais da Grécia.


Mas afinal, onde é o lugar mais perigoso do mundo?


É uma ilha de areia com uma história incrível e mais de 350 naufrágios catalogados!

Seu nome: Sable Island, localizada no Canadá

Mas, o que torna esta ilha de areia tão perigosa? Ela tem apenas 1,21 km na sua parte mais larga, com pouco mais de 43 km de comprimento e apenas 30 metros na sua parte mais alta,

Em primeiro lugar precisamos entender algumas características do local onde ela se localiza.

Ela situa-se a cerca 285 km a leste de Halifax. Esta localização intercepta a rota mais curta para os navios que navegam entre Europa e Estados Unidos (não se esqueça que a Terra não é plana, a rota mais curta não a linha reta dos mapas, mas sim o círculo máximo). Então, todos os navegantes que saem da Europa e querem atravessar o Atlântico pelo caminho mais curto, tem que passar por lá.

O primeiro homem a dar a volta ao mundo em solitário, Joshua Slocum, fala sobre ela no seu histórico livro Sailing Alone Around the World (aconselho vivamente ler! Maravilhoso! Creio que exista traduzido ao português ).

Quando Eric Tabarly (um dos meus ídolos!) ganhou a regata de travessia do Atlântico usou esta rota. Chegou 11 dias antes do segundo colocado que usou a rota do Caribe! O livro onde ele relata toda a história desta regata merece ser lido com carinho.

Bom, você estará pensando, se a ilha era conhecida e é pequena, seria só contorná-la.

Humm… não é bem assim. Existem outros "probleminhas" relacionados com ela.

A foto a seguir é a ilha, com seu formato de foice. Parece simples.

Porém, a região onde ela se encontra tem alguns probleminhas.

Nela, as fortes névoas são frequentes e, via de regra, seguidas de fortes tempestades e ciclones chamados de nor´easters (que são ciclones extratropicais de escala sinótica).

Acredita-se que esta ilha se formou na Era Glacial e que é o terminal dos depósitos de geleiras que existiam naquela época. As ondas e as frequentes tempestades fazem com que ela se mova constantemente, retirando areia do lado oeste e acrescentando no lado leste.

Em anos recentes no sul da ilha havia um lago de água salobra, Wallace Lake, que foi usado por hidroaviões militares durante a segunda guerra mundial. Devido às frequentes tempestades, a areia foi entrando no lago e, em 2011, secou completamente. Ele não existe mais, mas com fotos aéreas ainda é possível ver onde ele estava. Agora está tudo abaixo do nível do mar pois a ilha se moveu.

Pelo fato de situar-se no encontro da Corrente do Golfo (água quente) com a Corrente de Labrador (água fria), a formação da neblina é um problema sério. Elas são tão intensas e frequentes que, em média, por ano temos 122 dias com neblina, sendo o mês de julho o pior, com cerca de 22 dias de neblina intensa com ciclones!

Não é à toa que o apelido desta ilha seja Cemitério do Atlântico.

Nada resta destes mais de 350 naufrágios. Os barcos são destruídos pelas tormentas e a areia engole os restos.

O filme "The Perfect Storm" que conta o naufrágio do Andrea Gail, foi feito no local do naufrágio do verdadeiro barco, e reflete, de forma um pouco dramatizada, o que realmente foi aquela tempestade na região da ilha.

Pois é, o lugar mais perigos por onde passei (perto) na minha vida de velejador, é uma tranquila ilha de areia. Quem diria...

Atualmente somente pode-se parar por lá mediante prévia autorização da Park Canada e existe uma estação com pesquisadores. Os alimentos para os pesquisadores que lá estudam e trabalham, são enviados 2 vezes ao mês de avião, através da pista de praia de areia dura, quando as condições permitirem.

Em 1901 foram plantadas mais de 60.000 (sessenta mil) árvores. Todas morreram menos uma, um pinheiro, que no entanto tem pouco mais de um metro de altura e, no Natal, é enfeitado.

Existe uma vegetação que permite a sobrevivência de cerca 500 cavalos, que foram levados em 1800, e foram usados para ajudar a saquear o que sobrava dos naufrágios frequentes.

Hoje eles são protegidos. Por ano 1 ou 2 morrem de hipotermia no inverno.

Deixo o link para um premiado documentário sobre esta ilha e seus famosos cavalos. Existe a versão paga dele, mas neste link gratuito (tem anúncios), é de graça.,. ou seja: o produto é você.

Muito interessante conhecer um pouco mais sobre lugares incríveis. Espero que tenham gostado.

Obrigado e até o próximo blog


Elio Crapun



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