Tenaz, audacioso, enérgico, curioso, entusiasta, observador e visionário. Estes são apenas alguns dos adjetivos atribuídos a Pierre-Paul Riquet.
Filho de um rico funcionário público (coletor de impostos) do Rei Luis XIV, estudou pouco em escola e casou muito jovem (aos 19 anos) e, graças à influência do pai, ele se tornou o fornecedor de munições do Rei da Catalunha e com isso a sua fortuna se tornou enorme.
Naquela época um grande problema ainda não havia sido resolvido. Vários poderosos reis haviam tentado mas todos haviam fracassado, alguns pela falta de dinheiro outros pela falta de uma solução viável.
O desafio era conseguir criar um canal que unisse o Oceano Atlântico com o Mar Mediterrâneo em solo francês,
Este canal evitaria ter que pagar os elevados pedágios que enriqueciam a Espanha no Estreito de Gibraltar, reduziria os custos de transporte de mercadorias, desenvolveria as regiões por onde o canal passa e aumentaria o poder do Rei da França além de gerar impostos.
Mas como realizar tal canal? No meio da França existem algumas montanhas chamadas de Maciço Central e o mal precisa subir de lado e descer do outro deste Maciço. Além disso, o canal precisa de água e os rios destas regiões apresentam longos períodos de secas e depois períodos de inundações, portanto seria necessário domar estes rios.
Este era o problema que Riquet se propôs a resolver. Usando recursos próprios ele foi ao Maciço Central e estudou como desviar a água de vários rios e córregos e pensou em armazenar a água em um lago. Este lago alimentaria o canal.
Mas como fazer um canal que consegue subir as montanhas? Construindo eclusas!
Para verificar a viabilidade de suas ideias, Riquet construiu um lago nos jardins de seu castelo e, com a ajuda de maquetes, ele não precisou perder tempo com cálculos teóricos.
Seguro que seu projeto seria factível, diplomaticamente, foi ganhando aliados até que, em 1662, enviou uma carta ao ministro das finanças Colbert, dizendo que desejaria mostrar a ele e a Sua Majestade como criar o Canal dos Dois Mares!
Apesar do entusiasmo de Luis XIV que estava no poder há um ano e de Colbert, desejoso de mostrar que ele seria bom administrador, eles pediram a Riquet que fizesse uma série de provas demonstrando que seu projeto seria viável.
A última prova foi feita em 1665, tudo pago pelos bolsos de Riquet, mostrando na prática como alimentar de água os dois canais, aquele que vai do Atlântico até o ponto mais alto do Maciço Central e o outro daí em direção ao Mediterrâneo. (este último é o que se denomina Canal do Midi).
Restava um último problema a ser resolvido: o Governo não tinha dinheiro para construir obra de tal envergadura!
Riquet então propôs que ele financiaria parte dos custos e em troca teria direitos hereditários sobre pedágios e construção de casas e castelos ao longo do Canal, além de ser o Senhor dos depósitos de mercadorias e outras fontes de renda.
O Estado entraria apenas com uma parte complementar dos custos..
Mal sabia ele que o Estado não iria cumprir a promessa e que ele se endividaria de maneira incrível, fazendo seus descendentes solidários data monstruosa dívida. Por mais de meio século após o canal ter sido concluído eles ficaram pagando as dívidas herdadas, só então eles veriam os frutos e lucros daquele visionário antepassado.
O lago que represa as águas no alto do Maciço Central é o Saint-Ferréol, o maior lago artificial do mundo em sua época!
É importante lembrar que naquela época não existiam os motores e todas as embarcações tinham que ser puxadas por cavalos! Portanto nas duas margens do canal deveria haver um caminho por onde os cavalos seriam amarrados e com isto puxariam os barcos!.
Este canal não pode ter o nível de suas águas alterado, sempre deve ter o mesmo nível, caso contrário não funciona. Então ao cruzar com rios e riachos, pontes- canal foram construídas. Verdadeiras obras de arte onde a água do canal passa sobre os rios (e nem uma gota de água vasa através destas estruturas!).
Quando o Canal do Midi estava quase pronto, surgiu um problema inesperado. Perto da cidade de Beziérs uma colina impedia a passagem do canal. Duas soluções possíveis: dar a volta, o que representaria um aumento de vários quilómetros no percurso, ou fazer um túnel.
Riquet já havia conquistado muitos inimigos e estes iniciaram uma campanha contra o túnel dizendo que o solo não era suficientemente forte etc. etc.
O Rei pediu a Riquet que parasse a construção. Ele e mais alguns operários amigos, furtivamente, em três semanas cavaram o túnel e resolveram a questão, criando o primeiro túnel fluvial feito pelo homem em toda a história!
O detalhe interessante é que os cavalos têm medo de entrar no túnel, então, apenas neste trecho, cabos eram amarrados aos barcos e puxados pela outra extremidade. Simplesmente genial.
Riquet morreu em 1680, 4 km (6 meses) antes do canal ser completamente acabado.
Sua fama ultrapassava as fronteiras, ele era reverenciado como o grande gênio que foi, e deixou uma dívida colossal a seus herdeiros… e uma das maiores obras de toda a história.
As obras iniciaram em 15 de abril de 1667 e terminaram em 2 de maio de 1681.
Para conseguir realizar esta obra, que foi o maior canteiro até então e, para poder avançar com os trabalhos, Riquet pagava salários consideravelmente mais altos do que o habitual.
Visionário, criou benesses nunca antes oferecidos a operários: existia ajuda médica, descanso semanal remunerado inclusive nos dias de feriados, jornadas não trabalhadas por causa das chuvas eram pagas, e alimentação gratuita! Foram mais de 7 milhões de metros cúbicos de terra deslocada, 12 mil pessoas trabalhando com afinco seguindo o líder que os recompensava dignamente.
Em 1792 a República (revolução francesa de 1789) confisca o canal deixando os herdeiros sem os seus direitos. Será necessário esperar até o período da Restauração para que eles possam recuperar parte do que lhes foi tirado, mas isto vai durar pouco. O trem surgiu e passou a ser mais rápido que os barcos e Napoleão deu o controle do Canal ao seu mais terrível adversário: a Companhia Nacional de Caminhos de Ferro do Midi. Começou a lenta agonia do Canal e em 1898 o Estado toma definitivamente o canal para si e desde então isto permanece.
Hoje o Canal vive graças ao turismo. Suas vias laterais se transformaram em maravilhosos caminhos e ciclovias que atravessam cidades históricas, campos com vinhedos incríveis, monumentos que são patrimónios da humanidade e um lugar para aqueles que não querem fazer o turismo de massa, mas apreciam arte, natureza, vinhos, queijos, produtos naturais e valorizam o ser mais do que o ter.
Espero que tenham gostado de ler sobre este grande homem e seu feito glórias. Ele foi um verdadeiro Crapun.
Se deseja passar alguns dias de férias por aqui, basta entrar em contato comigo no e-mail crapun@gmail.com
Até o próximo blog.
Agradeço por passar mais este ensinamento sobre esta gloriosa parte da história da França ! Isto é Elio sendo Elio !!! Parabéns !! Grande abraço ! Saudades !!!!!!!!!
História fantástica!
Esses personagens são heróis, visionários de um tempo que não existe mais!
Bela história. A história daqueles que lutam para realizar os sonhos. São os visionários. Pessoas assim, não fazem coisas pensando apenas nos frutos. Elas lançam um olhar para o futuro, para as gerações vindouras.👏👏👏👏
caro Helio, ja tinha ouvido falar desse canal, mas não conhecia sua historia, bela narrativa, vce, é um descobridor de lugares fantasticos, e esse canal então fabuloso. parabens Helio, sempre nos brindando com belas descobertas, grande abraço Gilberto e Helenita, aqui de Praia da Ribanceira, Imbituba SC.
Muito boa a história e o porquê da construçāo desse magnifico Canal que logo logo iremos conhecer. Elio Crapun contando a história do Riquet "Tetú" é demais. Muito bom mesmo!