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  • Foto do escritorElio

Vamos falar de Heróis


Mosaico no Swiss National Museum (Foto Roland Zh)


Creio que na infância todos nós começamos a ter nossos heróis, aqueles que, de alguma forma, nos fazem sonhar.

Um dos meus primeiros heróis foi Guilherme Tell. Herói lendário que teria sido um exímio atirador com a besta (uma espécie de arco medieval).

Conta a lenda que um tirano governador austriaco, havia colocado na praça da cidadela um poste com um chapéu com as cores da Áustria. Todos os que passassem pela praça deveriam fazer uma referência ao chapéu. Havia soldados ao redor do poste para verificar que a ordem fosse cumprida.

Tell passou com seu filho e não fez a referência. Imediatamente foi preso e levado na presença do tirano que, para mostrar o seu poder, o levou de volta à praça, amarrou o filho dele no poste, colocou uma maçã na cabeça do filho e mandou Tell contar 50 passos de distância e atirar na maça! Se acertasse a maça ele não seria morto, se errasse ele seria morto como exemplo por descumprir às ordens.

A população estava assistindo sem poder reagir contra a ordem do tirano.

Tell contou os 50 passos, pegou uma flecha, olhou se ela estava perfeita e a colocou de volta no seu lugar. Pegou uma segunda flecha, de novo verificou se ela estava perfeita, colocou na besta e atirou. Acertou a maçã que se partiu ao meio e a população exultou!

O tirano então perguntou a Tell o porquê dele não ter usado a primeira flecha. Diante do silêncio de Tell, o tirano prometeu não matá-lo se ele contasse o verdadeiro motivo. E Tell teria dito que, caso ele errasse o tiro e matasse seu filho, seguramente com a primeira flecha ele não erraria o tiro no coração do tirano!

A lenda continua e Guilherme Tell é o herói da Suíça e, no Rio de Janeiro, existe uma estátua em homenagem a Guilherme Tell.

Lembro que quando o professor contou isto, ainda no primário, aquela noite tive dificuldade em dormir, sonhando com a coragem e honradez daquele lendário herói.

Nem precisa dizer que isto me motivou a construir um pequeno rudimentar arco para brincar de arco e flecha, e eu atirava flechas (confesso que voavam mal!) sonhando em acertar a maça para ser contra a tirania.

Mal eu sabia que aquele arco e flecha, no futuro, fariam com que considerasse óbvia a Lei de Hooke da física que se aprende no primeiro ano do científico.

Outro herói, esse já com os meus 10 ou 11 anos foi Galileo Galilei.

Retrato pintado por Tintoretto (1605 - 1607)


A história dele creio ser bem conhecida por todos, mas o que mais me marcou não foi o fato dele ter descoberto os princípios dariam origem à Lei da Gravidade e à mecânica newtoniana. Ele contrariava verdades que desde a época dos gregos eram aceitas como absolutas. Tampouco foi o fato dele ter sido o primeiro a apontar um telescópio para o céu e ter descoberto que Vênus tem fases, assim como a Lua.

Muito menos o fato dele haver descoberto as quatro luas, hoje chamadas Luas Galileanas, de Júpiter, ou ainda ter desafiado a Santa Igreja por afirmar que a Terra não era o centro do universo.


Pintura de Cristiano Banti (1857) mostrando Galileo diante da Santa Inquisição em Roma


O que me deixou sem sono por várias noites foi que, no famoso processo onde foi acusado de heresia e considerado culpado e condenado à prisão domiciliar (que o absolveu alguns anos trás! ), ao chegar na porta de saída, ele teria então pronunciado a famosa frase “Eppur si muove!”.

Talvez seja lenda, mas não importa. Esta frase demonstra que, mesmo que tenha que custar a vida, devemos lutar pela verdade e por defender nossas idéias.

Quando em 1948 foi fundada a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência, contando com mais de 60 cientistas brasileiros, foi escolhida essa frase como moto pelos cientistas da física para indicar que eles não aceitavam a ditadura que havia naquela época.

Claro que ter um herói como Galileu faz com que ainda criança começasse a sentir prazer em olhar o céu e tentar entendê-lo.

Hoje estou na França, em pleno confinamento devido à pandemia do Covid, e o que mais me entristece é ver jovens que nem sequer olham para o céu para ver a estrela Polar, assim com no sul do Brasil encontrar muitos que apenas reconhecem as Três Marias (cinturão de Órion) o Cruzeiro do Sul ou algo mais, e que são incapazes de dizer onde está situado o Polo Sul geográfico.

No mundo náutico houveram heróis, e não foram poucos!

Este barco é o Spray, de Joshua Slocum, o primeiro a dar a volta à Terra velejando em solitário.

Este é o barco Belgica com que Roald Amundsen, o primeiro a descobrir a passagem Nortwest, foi o primeiro homem a chegar no Polo Sul. Fritjordf Nansen, grande explorador polar e prêmio Nobel da Paz, James Cook, incrível navegador e primeiro a introduzir conceitos modernos de higiene, salvando muitas vidas.

A lista é longa e nos tempos mais recentes, talvez passe por Eric Tabarly, Sir Peter Blake (assassinado no Brasil) e tantos outros grandes nomes.

Cada um deles acrescentou e modificou o meu caráter e conceitos ao longo da vida.

Talvez eu devesse repensar os conceitos de herói.

Herói também é aquele médico que arrisca a própria vida nos hospitais, aquele que passa o dia trabalhando para poder dar condições de vida melhores aos seus filhos, aquele que mergulha nos livros e nos estudos para tentar evoluir intelectualmente e por aí vai.

Sim, a nossa sociedade é feita de milhões de pequenos heróis e que juntos tentam construir um futuro melhor.

Então só posso concluir que desde a infância devemos escolher que tipo de heróis damos como alimento aos nossos filhos.

Deixei link em cada nome desses heróis para que, caso você deseje contar suas histórias aos teus filhos, possa passar bons momentos deixando com que a imaginação deles também voe como a minha voava. É uma linda sensação.


Até o próximo blog com novidades aquáticas…


Elio Somaschini

Crapun

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